Cum Deo contra regem

"Subi ao telhado para orar
Mas divisei apenas mais nuvens negras no horizonte.

Na torre mais alta de Kent
Vi uma dama preocupada
E uma menina de cinco verões
Órfã do metal frio da espada
Clamando por um pai que não retornará.

Em Rochester, matei dez homens
E dois meninos da idade do meu filho
E chorei desconsolado
Junto ao corpo de um antigo amigo
Pois descobri que nesta terra sem brilho
Não há mal pior
Que a sede de poder dos reis.

Aqui, onde o céu de inverno
Derrama neve e água há dois meses
Não há sinal de Sol
Que me ajude a debelar os terrores dos meus dias
Que me permita voltar meus olhos para Deus
E olvidar os pesadelos amargos
Que povoam as minhas noites frias.

Senhor,
Dai-me a coragem para lutar
E a Fortaleza para onde fugir
Mas não mo permitais partir
Por ter embainhado a minha espada.

Pois tenho ainda um menino e uma mulher
E meu pai não pode mais andar
Entre os jardins de margaridas
Que ele um dia chamou de lar.

Dai-me a precisão do golpe
Preserva o fio da minha lâmina
E fortalece o meu braço
Para que o clangor do meu aço
Ensurdeça os ouvidos dos Santos.

Pois nas nuvens negras que se aproximam
Vejo a sombra estranha de um Rei
A cuspir sangue e cinzas, fogo e enxofre
Na terra gelada que eu cultivei.

Então, que eu possa esquecer a tristeza
E fazer o sangue inimigo cair
Tornando rubra a neve nova
Até que o sol possa brilhar
Até que o gelo derreta
E as margaridas possam florir."