Kent

História

Após a Batalha de Hastings em 1066, Guilherme levou seu exército para Romney. Algumas de suas tropas haviam desembarcado lá por engano e tinham sido mortas. Como retaliação, os normandos queimaram a cidade e mataram a maioria das pessoas. As notícias desta terrível vingança se espalharam por Kent, e quando Guilherme se mudou para Dover e começou a fazer o mesmo, Dover se rendeu quase imediatamente.

Mapa de Kent
Assim, o povo de Kent aceitou Guilherme como rei. A Igreja manteve suas extensas propriedades adquiridas antes da conquista, e as leis de Gavelkind, peculiares ao município, foram mantidas. Porém, as terras dos senhores que se opunham a William Hastings foram confiscadas. Os castelos de Dover, Rochester e Tonbridge defendiam pontos estratégicos e por isso foram colocados nas mãos de fiéis seguidores do rei. Ao Cinque Ports foram concedidos privilégios extras em troca de seu apoio naval contra invasores. Os normandos ficaram, assim, no controle.

Os Cinco Portos
Em 1213, o rei João Sem Terras teve um desentendimento com o Papa sobre quem deve ser o arcebispo de Kent. O Papa então solicitou ao rei francês para intervir com força em seu nome em 1213. João também dicutiu com os barões acerca de sobre tributação e, em 1215, a Guerra Civil eclodiu. 

Hubert de Burgh
Como se sabe, na primavera de 1216 os barões ofereceram a coroa para o delfim francês, herdeiro do trono francês. Os franceses desembarcaram em Stonar e rapidamente tomaram o controle de Canterbury, Rochester e Londres, com pouca oposição. Porém, Hubert de Burgh continuou assegurando castelo de Dover para o rei Joao, o que fez o cerco francês a este castelo durar mais de 15 semanas. Então, João faleceu e seu jovem filho Henrique foi declarado rei. Em 1217, após atacar e queimar o porto de Sandwich, o delfim estava em Londres aguardando reforços. Uma frota de Cinque Ports partiu de Dover para interceptar a frota francesa e capturou 55 de seus navios, afundando muitos outros. Derrotada, a França assinou um tratado de paz e se retirou.

Quando a frota do Cinque Ports capturou os reforços do delfim, descobriram que estavam sendo liderados pelo infame Eustace, o Monge, um clérigo renegado que havia virado pirata e que esteve atormentando Cinque Ports por muito tempo. Eustace foi, então, capturado no porão de seu navio e sumariamente decapitado. Hubert de Burgh voltou triunfalmente para Dover com a cabeça de Eustace e desfilou com ela pelas ruas de Dover e Canterbury.

Castelo de Dover

Castelo de Dover

Castelo de Dover
O hospital de Sandwich, fundado originalmente para o regresso dos cruzados, foi utilizado para o cuidado dos feridos nesta batalha e rebatizado de São Bartolomeu após do dia em que a batalha foi travada.

Castelo Bodiam, em Kent
Economia


Kent possuía minas de ferro, pedreiras e olarias. Salinas também foram listadas no Domesday em grande número.

Vista Oeste de Canterbury

Igreja de St Thomas, em Canterbury
Arco medieval em Canterbury
Em Canterbury, ourives e joalheiros trabalhavam fora dos portões da catedral. Funileiros  faziam insígnias com os emblemas dos peregrinos como lembranças para os visitantes do santuário de Saint Thomas. Existiam também um serralheiro, trabalhadores de couro e escultores de osso e marfim.

As áreas recém-estabelecidas do Weald prosperaram com os fazendeiros pioneiros e suas rendas complementadas com o trabalho em ferro, pano e vidro. Outros ofícios em Wealden incluíam bronze, cobre e queima de carvão.


As cidades

Após a chegada dos normandos as cidades cresceram rapidamente. As cidades costeiras ficaram mais seguras e o comércio com o continente foi aberto mais de uma vez. Como o país prosperou, criou-se um mercado para bens de luxo provenientes do exterior.

Os burgueses incentivavam os moradores a assumirem a responsabilidade pela rua fora de suas casas e pavimentar a mesma com pedra. Os reparos eram realizados de forma precária, colocando-se lenha de giesta nos buracos.

Cenas de uma típica cidade medieval

Artesãos começaram a formar guildas a partir do século XIII. Mais tarde, estas associações de comerciantes e artesãos foram reconhecidas pelo rei e dispensadas de pagar pedágios nas estradas e hidrovias.  

No Domesday, Canterbury e Rochester foram listadas como  cidades que possuíam catedrais. Canterbury era a maior cidade em Kent, com uma população estimada de 8.000 pessoas. Apesar da destruição por Guilherme, o Conquistador,  em 1066, Dover continuava grande o suficiente para ser chamada de cidade, com uma população estimada em 2.000 pessoas. Sandwich, Romney e Hythe foram listados como burgos, cidades às quais foram concedidas uma carta régia, enquanto Fordwich e Seasalter eram pequenos bairros.

A baía de Sandwich
Os distritos reais de Dover, Canterbury e Rochester respondiam diretamente ao rei. Quando cresceram mais, foram-lhes concedidos cartas régias pelo rei, que estabeleceram o seu direito de auto-governo e definiram seus direitos e obrigações. Dover foi a primeira cidade de Kent a receber a carta em 1257, que  permitia que os habitantes da cidade elegessem um prefeito e arrecadassem impostos.

Canterbury era uma cidade importante, mas foi quase completamente destruída por um incêndio em 1161. O fogo era um perigo constante. Em 1174, o extremo leste da catedral foi destruída. No entanto, no século XIII Canterbury já tinha mais de 200 lojas e diversos mercados. A cidade também tinha uma casa da moeda, a única fora de Londres.

Mapa de Canterbury
Nas cidades, os sinos marcavam o dia. Os comerciantes muitas vezes abriam às 6h, logo após a missa da manhã, e todos os negócios se encerravam às 21:00, quando havia um toque de recolher. Neste momento, os portões da cidade eram fechadoss e todos tinham que estar em casa.

Os “Cinco Portos”

Brasão
Os privilégios do Cinque Ports foram amalgamados sob uma carta patente geral em 1278. Os cinco portos eram Hastings, Sandwich, Dover, New Romney e Hythe. Além disso, haviam duas 'cidades antigas', Rye e Winchelsea. Em uma tentativa de estabelecer algum controle sobre suas atividades, o rei nomeou um Lord Warden, que também foi nomeado condestável do castelo de Dover.

O poder do Cinque Ports chegou ao seu auge no século XIII, a instituição porém dependia ainda principalmente da pesca para sua renda regular. Sandwich, por exemplo, era uma posse da igreja de Christchurch, em Canterbury, e pagava 40 francos para receber 40.000 arenques por ano.

Um dos direitos especiais do Cinque Ports era o de possuir seus próprios tribunais e o direito dos homens dos portos (portsmen) de serem julgados por seus pares, não importando onde o alegado crime tenha ocorrido. Isto era rigorosamente cumprido, a ponto de que, se um portsman aceitasse um mandado proveniente de, por exemplo, um tribunal eclesiástico, ele era multado pelos portos por permitir que seus privilégios tivessem sido diminuídos.

Mapa dos Cinque Ports
Durante o período medieval estes tribunais controlaram totalmente os portos, e se reúnem até hoje para discutir questões relativas aos seus interesses e administrar o juramento oficial a um novo Senhor Warden.

Saúde

A falta de saneamento neste momento foi a causa de muitas doenças. Nas cidades, as latrinas públicas, casas de banho sem drenos e a céu aberto, eram geralmente próximas ao rio. A água era reconhecidamente insegura para consumo, então fabricava-se e bebia-se cerveja. Tentativas foram feitas para impedir a proliferação dos cursos de água, especialmente quando eles corriam através da cidade.

A lepra era uma doença comum e incapacitante. Pensava-se que os leprosos eram contagiosos, então  eles eram mantidos fora da cidade em hospitais especiais, tais como São Bartolomeu, em Dover.

As pessoas confiavam em curas com ervas e na fé para obter ou produzir curas. Os ricos podiam se dar ao luxo de contratar um médico. Um médico chamado Nigel, equivalente a um médico moderno, foi registrado no  Domesday vivendo em Saint Margaret, em Cliffe.

Mosteiros eram, muitas vezes, paraísos separados das doenças do mundo exterior. Alguns tinham até mesmo fontes com água encanada limpa, e em Christchurch os monges estavam equipados com sanitários com descarga, o que impedia, mas não muito, a propagação de doenças infecciosas.

Castelo de Rochester
Uma das várias doenças devastadoras sofridas durante a Idade Média foi a Praga, ou a Morte Negra. As vítimas morriam, por vezes, poucas horas após terem sido mordidas por ratos ou pulgas infectados. Foi muito contagiosa, espalhando-se através das famílias, entre vizinhos e aldeias, e de uma cidade para a próxima, junto a pessoas que iam para cuidar de seus negócios, ou que simplesmente tantavam fugir da doença. O Bispo de Rochester, or exemplo, perdeu toda a sua casa de 32 homens.

A Guerra dos Cem Anos



Introdução

A Guerra dos Cem Anos foi um longo conflito que envolveu a Inglaterra e França entre os séculos 14 e 15, período marcado por transformações socioeconômicas e políticas, que caracterizaram a crise do sistema feudal.

O grande crescimento populacional e das cidades, assim como o movimento das Cruzadas, foi responsável pela reativação da produção e do comércio, e deu uma nova dinâmica às sociedades européias. Do ponto de vista político, os reis fortaleceram e centralizaram o poder, refletindo os novos interesses que se desenvolviam, relacionados à formação de uma camada de mercadores e a adaptação da nobreza e de seus interesses.

Para os mercadores, as estruturas feudais representavam um obstáculo ao desenvolvimento, uma vez que a autonomia de cada feudo permitia que houvesse uma variação muito grande moedas, leis, exércitos, sistema de pesos e de medidas, dificultando a circulação de mercadorias. Por isso os grupos mercantis e, em particular os habitantes dos burgos, tenderam a apoiar a centralização do poder real, com o intuito de unificar os mercados. Apesar de pouco numerosos e considerados como um grupo marginal, os burgueses formavam uma camada nascente que acumulava capitais e contribuía financeiramente para o rei armar seus exércitos.

Tapeçaria representativa da Guerra dos Cem Anos
A formação das nações

O processo de centralização política pode ser percebido desde o século 12, de forma sutil, na medida em que os reis exigiam que seus vassalos se subordinassem a seus tribunais.

A formação das Monarquias nacionais é normalmente apresentada como um processo linear, ou seja, um processo político onde, gradualmente o rei aumenta seu poder ao longo do tempo e, ao contrário, a nobreza e o clero perdem poder e espaço político. Apesar dos grandes interesses em jogo, a centralização do poder real encontrou peculiaridades em cada região européias ou em cada nação em formação.

Na Península Ibérica, a formação dos reinos está diretamente vinculada a Guerra de Reconquista e mescla interesses feudais e comerciais. O condado portucalense, que deu origem ao Reino de Portugal, era inicialmente, uma possessão feudal, fruto das alianças entre grandes nobres durante a guerra. A independência de Portugal frente à Castela por sua vez, representou a quebra da vassalagem devida até então.

Durante a Baixa Idade Média, a Inglaterra viveu um processo contraditório em relação à disputa política. No início do século 13 a nobreza inglesa impôs ao rei João Sem Terra a "Magna Carta", documento que estabeleceu limites ao poder real, principalmente em relação às questões jurídicas, tributárias e que envolvessem a guerra; desde 1215 o rei deveria consultar um "Conselho de Nobres" para tomar decisões sobre essas questões. Se por um lado o poder real ficou limitado, por outro foi reconhecido e legitimado, ao mesmo tempo em que possibilitou que as relações entre o rei e a nobreza se tornassem mais equilibradas, garantindo ao rei maior prestígio e subordinação por parte dos súditos, responsáveis por fornecer ao rei os recursos matérias necessários para as guerras. Nesse sentido os exércitos ingleses, formados pelos homens cedidos pelos grandes barões e comandados pelos mesmos, podiam ser considerados mais organizados e disciplinados. Gradualmente o poder real se fortaleceu.

Na França a situação era diferente, a centralização política aparentemente caminhava a passos largos, a vitória de Luis 8º sobre João Sem Terra e a política tributária centralizadora de Felipe, o belo, fizeram com que o poder real fosse reforçado.

Os Atritos

Vários fatores determinaram o aumento de hostilidades entre Inglaterra e França, num primeiro momento, interesses que envolviam os reis e importantes setores da nobreza. No século 12, o rei Henrique II da Inglaterra se casou com Leonor da Aquitânia e, segundo as tradições feudais, tornou-se vassalo do rei da França nos ducados da Guyenna e Gasconha. Desde então as relações entre os reis da Inglaterra e França foram marcadas por conflitos políticos e militares. No entanto, durante esse período não podemos pensar uma guerra entre nações ou países. Mesmo mais tarde, no século 15, durante o famoso episódio que envolveu Joana D'arc, é muito difícil tratar de nação e portanto de nacionalismo. Os conflitos do período muitas vezes tiveram nobres ingleses aliados ao rei da França, em outras ocasiões a situação é inversa.

O próprio Henrique 2º foi vitima de uma conspiração que envolveu seus dois filhos, Ricardo, o coração de leão e João, sem terra, que para destronar o pai se aliaram ao rei da França Filipe Augusto. As disputas envolvendo os dois reinos pelo trono da Inglaterra também servem para demonstrar que a luta pelo poder não tem nacionalidade. A rebelião dos barões ingleses em 1215que deu origem a Magna Carta atesta essa situação mais uma vez. Os ingleses perderam suas possessões em França.

Outro ponto de atrito entre as duas monarquias era a região de Flandres, rido entreposto comercial, situado a nordeste da França, a qual estava subordinado politicamente. Além do intenso comércio estabelecido na região, Flandres era importante centro produtor de tecidos, que consumia grande parte da lã produzida pela Inglaterra. Essa camada urbana vinculada à produção de tecidos e ao comércio posicionava-se a favor dos interesses ingleses e portanto, contra a ingerência política francesa na região.

No entanto, a situação tornou-se verdadeiramente crítica quando o Conde de Nevers, regente de Flandres desde 1322, prestou juramento de obediência ao seu suserano Filipe de Valois, decisão que poderia paralisar a economia flamenga, pois, com a morte do terceiro e último filho de Filipe IV, o Belo (Carlos IV, 1328), o trono da França passou para um de seus sobrinhos, justamente Filipe de Valois, que adotou o nome de Filipe VI (1328 a 1350). Instigado por Jacques Artervelde, rico mercador que já havia liderado uma rebelião na cidade flamenga de Gand, o rei da Inglaterra Eduardo III (1327 a 1377) reclamou para si a coroa francesa, alegando sua condição de neto (pelo lado materno) de Filipe, o Belo.

A Guerra

Mapa da Guerra dos Cem Anos
Os franceses acusavam os ingleses de desenvolverem uma política expansionista, percebida pelos interesses na Guyenne e em Flandres. Já os ingleses insistiam em seus legítimos direitos políticos e territoriais na França.

Em 1337 Felipe VI, de Valois, rei da França, atacou a Guyenne iniciando o conflito que duraria décadas e diversas gerações. Além disso exerceu intenso assédio ao litoral inglês durante meses, até ser derrotado em 1340.

Durante o reinado desses dois reis, as Batalhas de Crécy e de Calais, em 1346 e 1347 respectivamente, foram as mais importantes, ambas com vitórias inglesas, que garantiram a Eduardo III importantes posições no norte do país, mantendo o Canal da Mancha sob seu controle. Para tanto o rei da Inglaterra contou com o apoio financeiro de grandes mercadores de Flandres e do duque da Bretanha, que voltou-se contra o monarca francês. O avanço e a conquista inglesa só não forma maiores porque os dois países, como a maior parte da Europa, estavam sendo duramente atingidos pela peste negra, que foi responsável por interromper a guerra.

O período seguinte da guerra foi comandado por Eduardo IV da Inglaterra, conhecido como "o príncipe negro" (por conta da cor de sua armadura), e por João II, conhecido como "o bom", que sucedera ao pai no comando do reino francês. Esse período foi caracterizado por sucessivas vitórias inglesas, contando com o apoio de muitos nobres locais, mais preocupados em preservar seus domínios do que com a lealdade devida ao rei da França, possibilitando o domínio de cerca de um terço do território francês nas regiões norte e oeste, Em 1356, quando da batalha de Poitiers, o rei João II foi capturado e levado como prisioneiro para a Inglaterra, onde morreria oito anos depois, momento que representou o ápice das conquistas inglesas e, pelo contrário, o momento mais delicado para a França na guerra, forçando-a a assinar o Tratado de Brétigny (1360) que reconhecia o domínio inglês sobre as regiões conquistadas e devolvia os territórios tomados no início do conflito.

Após a morte de João II, o bom, o reino francês foi comandado por seu filho, Carlos V que enfrentou sucessivas revoltas camponesas, as mais famosas conhecidas como "Jacqueries", e também urbanas. O rei não reconheceu os acordos anteriores e de 1360 a 1380 obteve vitórias significativas sobre os ingleses retomando grande parte do território perdido. As vitórias desse rei, fruto da reorganização militar, fortaleceram a idéia de centralização política, possibilitou submeter a maior parte da nobreza, aumentar a arrecadação tributária e organizar o Estado com elementos oriundos da burguesia em cargos de confiança.

As últimas décadas do século 14 e as décadas iniciais do século seguinte foram marcadas pelas disputas internas nos dois países, arrefecendo momentaneamente a guerra externa. No caso da Inglaterra ocorreram rebeliões camponesas lideradas por Wat Tyler, contra a servidão e posteriormente as disputas envolveram parte da nobreza, que lutou contra o rei, e culminou com a ascensão de Henrique de Lancaster ao trono em 1399, com o título de Henrique IV. Na França as lutas internas foram mais complexas e envolveram os interesses da região da Borgonha, antigo feudo poderoso, que lutou constantemente por seus interesses particulares. Em Considerando Carlos VI como incapaz, os Borguinhões pretenderam tomar o poder e aliaram-se aos ingleses. Ao lado da família real ficaram o irmão do rei, Luis de Orléans e Bernardo de Armagnac. Nesta guerra civil, destacaram-se João sem medo de Borgonha e o Delfim Carlos, que mesmo deserdado pelo pai manteve a liderança das tropas francesas contra os ingleses e mais tarde assumiria o trono como Carlos VII (1422).

Os conflitos forma retomados desde 1413 por Henrique V, que sucedera o pai e procurou se aproveitar da guerra interna à França. A Batalha de Azincourt em 1415 representa o grande momento da nova ascensão inglesa que, vitoriosa, impôs o Tratado de Troyes, em 1420, aos franceses, que garantia a Inglaterra todo o norte do país, inclusive Paris e, o mais grave, destituía o Delfim Carlos, colocando-se Henrique V da Inglaterra como sucessor do trono francês. Para consolidar tal acordo, Henrique casou-se com Catarina, filha do rei Carlos VI, e portanto irmã do Delfim.

Em 1422 os reis dos dois países morreram. Henrique V da Inglaterra e Carlos VI da França. Oficialmente o trono era herdado por Henrique VI, criança recém nascida, enquanto o Delfim Carlos viria a ser coroado apenas em 1429, em Reims, num momento onde a guerra tomou novo rumo, em grande parte atribuído a figura de Joana D'arc, camponesa que liderou tropas do sul da França em apoio ao rei.

A figura de Joana Dáarc tornou-se um mito e ainda hoje e tratada dessa maneira pela historiografia predominante. Destaca-se o aspecto religioso nesse processo de mitificação, tanto pelo fato de "ter tido visões" que a levaram a participar da guerra, ou ainda pelo fato de ser transformada em "heroína nacional", numa época em que é praticamente impossível falar em nacionalismo.

Inocêncio III

Reposição do poder papal

Inocencio III
Como papa, Inocêncio III desenvolveu um sentido muito amplo de sua responsabilidade e autoridade. A recaptura de Jerusalém pelos muçulmanos em 1187, foi considerado por Inocêncio um castigo divino devido aos lapsos morais dos príncipes cristãos. Ele também determinou a proteção da liberdade da Igreja dos príncipes seculares. Essa determinação significa, entre outras coisas, que os príncipes não deviam ser envolvidos na escolha dos bispos, e foi focado principalmente nos Estados Pontifícios, localizados no centro da Itália, que era rotineiramente ameaçado pelos reis alemães da Casa de Hohenstaufen que, como os imperadores romanos, reivindicavam este território para si próprios.

Com a morte do imperador Henrique VI, posteriormente seu filho, o príncipe Frederico II deveria se tornar rei da Sicília, rei dos alemães, e imperador romano, uma combinação que deixou a Alemanha, Itália e Sicília sob um único governante e deixou os Estados Pontifícios extremamente vulneráveis. A viúva de Henrique VI, mãe de Frederico, Constança, governou a Sicília, antes que seu filho atingisse a maioridade. Antes de sua morte, em 1198, Constança tornou Inocêncio guardião de Frederico, até que ele atingisse a maioridade. Desta forma, Inocêncio recuperou os direitos papais na Sicília, que haviam sido abolidos décadas antes por William I da Sicília sob o Papa Adriano IV (1154-1159).

Participação nas eleições imperiais e poder feudal na Europa

Durante o pontificado de Inocêncio III, os papas estavam no auge de seu poder temporal, e Inocêncio foi considerado a pessoa mais influente na Europa naquele momento, tendo ele afirmado a suprema autoridade espiritual dos papas. Com a morte do imperador Henrique VI da Germânia em 1197, o seu sucessor, segundo as regras vigentes, deveria ser designado pelo papa; embora Inocêncio tenha afirmado que não tinha intenção de usurpar os direitos dos príncipes, ele insistiu sobre os direitos da Igreja nesta matéria, e enfatizou especialmente que a atribuição da coroa imperial devia ser feita somente pelo papa. Assim declararam-se dois candidatos na eleição: Otto IV (de Brunswick, da família Welf), favorito do papa e apoiado pelo seu tio João I da Inglaterra, e Filipe da Suábia, irmão de Henrique VI apoiado por Filipe II. Em 1201 o papa decidiu ficar abertamente ao lado de Otto IV.

Em 3 de julho de 1201, o legado papal, o cardeal-bispo da Palestina, Guido, anunciou para o povo, na catedral de Colónia, que Otto IV tinha sido aprovado pelo Papa como rei romano e havia ameaçado de excomunhão todos aqueles que se recusassem a reconhecê-lo. Inocêncio III no decreto Venerabilem, que falou sobre as responsabilidades dos príncipes alemães, se dirigindo ao duque de Zähringen em maio de 1202. Esse decreto, que se tornou famoso, foi mais tarde incorporada no Corpus Juris Canonici.

* Os príncipes alemães têm o direito de eleger o rei, que depois se torna imperador. Este direito foi-lhes dado pela Sé Apostólica (…);
* O direito de decidir se um rei assim eleito é digno das insígnias imperiais pertence ao papa, cuja responsabilidade é ungí-lo, consagrá-lo, e coroá-lo (…);
* Se o papa considera que o rei que foi eleito pelos príncipes é indigno das insígnias imperiais, os príncipes devem eleger um novo rei, ou, se recusarem-se, o papa irá conferir a dignidade imperial para outro rei, porque a Igreja é (…) uma patrona e defensora,
* Em caso de uma dupla eleição, o papa deve exortar os príncipes a chegar a um acordo. Se depois de um devido intervalo, eles não chegarem a um acordo, devem pedir ao Papa para arbitrar, pois ele pela sua própria vontade e pela força do seu cargo deve decidir a favor de um dos reclamantes. A decisão do papa não precisa ser baseadas na legalidade maior ou menor de uma eleição, mas sobre a qualificação dos requerentes.


Inocêncio arrepender-se-ia do apoio que dera à Otto, pois ele mostraria ambições sobre os Estados Pontifícios, chegando a excomungá-lo depois. Inocêncio e Filipe II de França negociam com Frederico II da Germânia, filho de Henrique VI e o coroa rei dos Romanos em Mainz em 1212. Apesar de excomungado, Otto tentou permanecer no poder aliando-se com a Inglaterra (ele era o sobrinho de João Sem Terra), Otto é derrotado na Batalha de Bouvines no que é hoje a Bélgica, em 27 de julho de 1214 e Frederico II se torna indiscutivelmente o rei, o que já era por direito embora representasse um perigo para as aspirações da Santa Sé.

Inocêncio III desempenhou um papel importante na política da França, Suécia, Bulgária, Espanha, e especialmente na Inglaterra. Inocêncio convocou a Quarta Cruzada, que foi desviada para Constantinopla. O papa excomungou os cruzados que atacaram cidades cristãs, porém Inocêncio manteve sua presença neste local, porque sentia, erroneamente, que ela traria uma reconciliação entre as Igrejas orientais e ocidentais. Inocêncio também ordenou uma cruzada contra os Albigenses, que moderou com sucesso a heresia dos cátaros na França, de forma violenta.
Cruzadas e supressão de heresias

Afresco do Papa Inocêncio III no mosteiro beneditino de Subiaco, Lazio, em torno de 1219.

Inocêncio III foi um vigoroso adversário das heresias, e empreendeu várias campanhas, tanto pacíficas quanto violentas contra elas. No início de seu pontificado, ele incidiu sobre os albigenses, uma seita que vinha crescendo no sul da França. Em 1199, ele condenou as traduções não autorizadas da Bíblia para o francês. Dois monges cistercienses foram enviados para ensinar aos Albigenses na França a fé e os ensinamentos católicos. Em 1208, o assassinato de Pedro de Castelnau, um representante do Papa no território dos Albigenses, alterou o foco das missões, que se tornaram violentas. Inocêncio convocou uma Cruzada à França para suprimir os Albigenses. Sob a liderança de Simão de Montfort uma campanha foi lançada. A cruzada foi interrompida em 1213 após a batalha de Muret em que Montfort foi derrotado por Raimundo de Toulouse e matou seu aliado, Pedro II de Aragão.

Inocêncio também decretou a Quarta Cruzada, de 1198, destinada a recuperar a Terra Santa. O papa dirigiu seu apelo para os cavaleiros e os nobres da Europa, em vez dos reis, Inocêncio não estava tentando deliberadamente excluir os reis, mas Henrique da Alemanha tinha acabado de morrer, bem como Ricardo I de Inglaterra (1189-1199) e Filipe II de França, não estavam dispostos à iniciar uma cruzada. A chamada de Inocêncio III foi geralmente ignorada até novembro de 1199, quando uma cruzada foi finalmente organizada em Champagne. Os cruzados foram redirecionados para capturar Zara (Zadar) em 1202 para conseguir dos venezianos navios e transporte para o exército no mar. Constantinopla seria capturada pelo príncipe Aleixo IV em 1204. Inocêncio III ficou horrorizado com o ataque aos bizantinos por parte dos cruzados. Os cruzados que atacaram Zara foram excomungados automaticamente de acordo com as ameaças de Inocêncio, uma vez que antes do lançamento da Cruzada, Inocêncio insistiu que as cidades cristãs não deviam ser atacadas".
Posição espiritual sobre o matrimônio

O Papa Inocêncio III autorizou em 1198 pela primeira vez o casamento de um surdo dizendo: "Cum quod verbis non podes signis valet declare" ou " O que não pode falar, mas em sinais pode se manifestar". Na Espanha impediu a dissolução do casamento dos reis Pedro II, de Aragão, e Afonso IX, de Leão.

Aprovação da Ordem Franciscana
O sonho de Inocêncio III
São Francisco de Assis em 1210 reuniu um grupo de seguidores e dirigiu-se a Roma para obter a autorização do Papa Inocêncio para a fundação de sua Ordem. Segundo o cronista inglês Matthew Paris, lá chegando, sujos e vestidos pobremente, foram ridicularizados pela corte de Inocêncio, que a considerava excessivamente rigorosa, no entanto mais tarde, o papa decidiu recebê-los em uma audiência formal depois que se lavassem. Francisco e seus amigos se prepararam então para esse outro encontro conseguindo o apoio de alguns prelados. Segundo os relatos antigos, nesse ínterim Inocêncio teve um sonho, onde viu a Basílica de São João de Latrão prestes a desabar, apenas sustentada por um pobre religioso, que ele entendeu ser Francisco. Com a recomendação favorável de alguns conselheiros e com o aviso recebido em sonho, Inocêncio finalmente autorizou o estilo de vida franciscano.

Quarto Concílio de Latrão

Inocêncio III convocou o Quarto Concílio de Latrão pela bula papal "Vineam Domini Sabaoth" de 19 de abril de 1213, tendo o concílio se reunido em 15 de novembro de 1215, sendo considerado o concílio ecumênico mais importante da Idade Média. Com a sua conclusão, foram emitidos setenta decretos reformatórios.

Diante das diversas heresias que contestavam doutrinas cristãs fundamentais, o concílio proclamou dogmaticamente doutrinas sobre os sacramentos, como a transubstanciação e a confissão dos pecados anualmente. Foram emitidos procedimentos para combater a corrupção clerical. O concílio também ordenou que os judeus usassem marcações especiais de identificação em suas roupas - um sinal da crescente hostilidade sentida pelos cristãos contra os judeus na região.

Morte e legado
Após o IV Concílio de Latrão, na primavera de 1216, Inocêncio mudou-se para o norte da Itália, em uma tentativa de conciliar as cidades marinheiras de Pisa e Gênova, removendo a excomunhão sobre Pisa decretada pelo seu antecessor, Celestino III e fazendo um pacto com Génova, para motivá-los religiosamente e comercialmente.

Inocêncio III, no entanto, morreu repentinamente em Perugia, em 16 de julho de 1216. Após sua morte seu corpo foi esquecido nu em uma saleta por alguns dias. Só depois deste incidente ele foi sepultado na catedral de Perugia, onde seu corpo permaneceu até o Papa Leão XIII o transferir para a Basílica de São João de Latrão, em dezembro de 1891.
O legado mais significativo de Inocêncio III foi na definição do direito canónico, se tornando um dos maiores juristas de seu tempo. Geralmente considera-se que Inocêncio III foi o primeiro papa a usar um brasão pessoal, além dos simbolismos próprios da Santa Sé. Duas de suas obras latinas ainda são amplamente lidas atualmente: De Miseria Humanae conditionis, um tratado sobre o ascetismo que Inocêncio III escreveu antes de se tornar papa, e De Sacro altaris Mysterio, que é uma descrição e uma exegese da liturgia.
Santa Lutgarda e Inocêncio III
Santa Lutgarda
Santa Lutgarda relatou que teve uma visão na qual, viu Inocêncio III no purgatório. No mesmo dia que morreu, ele apareceu para Lutgarda em seu monastério em Aywieres, em Brabant. Envolvido em chamas, ele declarou para ela: "Eu sou o Papa Inocêncio". Ele continuou explicando que estava no purgatório por três falhas. Inocêncio solicitou que Lutgarda viesse em seu auxílio através de orações, dizendo: "Ai de mim! É terrível, e vai durar por séculos, se você não vier em meu auxílio. Em nome de Maria, que obteve para mim o favor de apelar para você, ajude-me!". Naquele momento, ele desapareceu e Santa Lutgarda informou suas irmãs do que ela tinha visto.

Normandos na Inglaterra

Os normandos foram um povo medieval estabelecido no norte da França, cuja aristocracia descendia em grande parte de Vikings da Escandinávia (o nome deriva de Northmen ou Norsemen, que significa "homens do Norte").

História

Em 911, o rei da França cedeu ao líder viking invasor Rollo o ducado da Normandia, na esperança de que eles defendessem o país de novos ataques estrangeiros, fossem outros vikings ou não. Rollo aceitou o tratado e se instalou no território que em alguns anos de conquistas e anexações seria transformado na Normandia. Era usual que os vikings se casassem com mulheres francesas e dessem uma educação católica a seus filhos. Desse modo, já no ano 1000, os vikings normandos já deixavam de ser pagãos para se tornarem normandos cristãos e falantes do francês.

Mapa da França, com a Normandia ao norte, em verde-claro

Em 1066, os normandos venceram a Batalha de Hastings, e com isso conquistaram o trono inglês. A língua inglesa moderna surgiria da união entre os idiomas dos anglos e saxões com o francês trazido pelos normandos.

Tapeçaria da Batalha de Hastings
Em 1154, Henrique II marcou o fim do período normando na Inglaterra. Já no fim do século, nenhum normando ainda se considerava normando, nem mesmo na própria Normandia.

Ao se estabelecer no norte da França, o povo viking adotou o feudalismo como modelo sócio-econômico. Já denominados como normandos, esses implantaram o sistema feudal nos países que conquistavam. O binômio terra-proteção se enraizou na sociedade do povo normando.

A sociedade era composta por servos sem terra, vilões, aldeões, proprietários livres, cavaleiros, abades e abadessas, barões, bispos e rei.

Moinho medieval da região normanda

As casas dos normandos indicavam qual sua posição na hierarquia social. O senhor da propriedade ou um comerciante rico tinha casa de pedras com vários quartos. Entretanto, os que não tinham meios para contruir suas casas as faziam de palha, argila e madeira.

Castelos

Castelos normandos como Hedingham e Oxford tinham um objetivo bem definido. O rei Guilherme I ordenou a construção de castelos nos pontos mais importantes do país na medida em que era difícil a manutenção das conquistas territoriais. Os castelos eram localizados perto das cidades no intuito de evitar rebeliões. Se fosse necessário, centenas de casas poderiam ser demolidas para a construção dos castelos.

Vida na cidade

Na época áurea da dominação Normanda, as cidades tiveram alto crescimento populacional. Por exemplo, Londres, no fim do século XII, já possuía 20 mil habitantes. As cidades se formavam à medida que os senhores feudais conseguiam do rei o direito de ter mercados em seus domínios e isso foi um dos motivos pela qual o comércio se intensificou na Inglaterra e o feudalismo foi aos poucos deixado para trás. Quando isso acontecia, eles abriam ruas e estabelecimentos comerciais.

Nas cidades, as doenças eram ameaças constantes. O lixo, a água poluída e a ausência de sistema de esgoto eram problemas graves naquela época.