Nova Campanha: A Ordem dos Cavaleiros de São Jorge


Documento confidencial #328

Carta do Bispo emérito de Londres, Dom Alden B. Pachkavnick a Sua Santidade, Papa Estevão II

"Vaticano, 08 fevereiro de 2001.


                       Os pombos não param de se juntar sob a minha janela nestes frios dias de chuva. Mas eu gosto deles, pois sempre me lembram como funcionam as pessoas. E como podem sujar seu chapéu assim que não precisam mais do abrigo que lhes foi fornecido.
                       Vossa Santidade sempre me teve por obstinado e pessimista, mas sabe bem que, apesar de meus muitos defeitos e poucas virtudes, sempre fui fiel à Santa Sé. E como somos amigos há longos anos, Vossa Santidade deve me permitir tratar desses assuntos com a clareza necessária e sem a sutileza que seria esperada nesses casos.
                       Sabemos que a Igreja têm enfrentado problemas para se manter como bússola moral há muito tempo, e que nosso nome não inspira mais a mente dos jovens ou o respeito dos anciões. "Certas batinas jamais deveriam ter sido vestidas, e certos sacramentos, jamais praticados", como disse certa vez um de nossos mártires. Temos sangue secular em nossas mãos e processos penais em mais de vinte países. Mas sabemos que isso é apenas a consequência do mundo em que vivemos: um mundo que não foi herdado pelos "mansos e pacíficos", como dizia Nosso Senhor, mas pelos fortes e perversos, que a todo instante nos espreitam em busca de possíveis fraquezas e rachaduras morais.
                       Tais cousas são mais que suficientes para desanimar os mais incautos e fraquejantes na fé, ou mesmo aqueles que engatinham nas Sagradas Escrituras enquanto um universo maligno de escuridão e poeira rasteja sob a soleira de suas portas. Mas Vossa Santidade nos conhece, entende o nosso trabalho, e sabe que há muitas gerações temos nos mantido impávidos em nossa luta.
                       Como São Paulo e São Jorge, temos combatido o bom combate e empunhado as armas da fé que derrota dragões por séculos e séculos, sem que muito pouco ou quase nada de nossas premissas iniciais precisassem mudar, e sem que nossos méritos precisassem ser minimamente reconhecidos por todos aqueles que se dizem "cristãos".
                       Porém, esse tem sido o nosso principal problema.
                       Desde o início do século passado as nossas fileiras emagrecem a olhos vistos: de milhares de membros no final do século XV, fomos reduzidos a menos de uma centena nos tempos atuais. E até mesmo o dobro disso é considerado nada quando comparado a tudo aquilo que enfrentamos diariamente. E verdade seja dita, tem sido mais fácil encontrar noviços dentre outras "disciplinas da fé" que dentre os próprios católicos que, Deus me perdoe, sequer deveriam se chamar por este nome.
                       Agora também sabemos que Vossa Santidade tem diminuído nossas verbas periodicamente há vários anos, tornando quase impossível a manutenção da nossa Ordem: os pontos de acesso diminuíram consideravelmente, pois a maioria de nossos contatos não pode viver por si só, e precisamos de mais tecnologia em nossas lides diárias do que precisávamos há 20 anos atrás. Temos ao nosso lado homens que podem retorcer o tecido do espaço-tempo e mulheres que fariam chorar de medo a própria Virgem, mas precisamos do apoio de Vossa Santidade para continuar a operar no mundo de hoje.
                       Sem nós, os Servos de Eliakim teriam dominado Moscou; a Cruz de Sangue teria desfraldado sua bandeira na chegada dos Aliados à Normandia; Eduardo III teria perdido a Inglaterra e Portugal seria uma colônia francesa. Nós impedimos a invasão dos Lordes Infernais na Guatemala, exterminamos os dois últimos anticristos e derrotamos a Ordem das Correntes de Lundunus durante a Revolução Industrial. Mas sempre nos mantivemos humildes e fervorosos, ciosos de nosso trabalho e nosso dever perante a Obra de Deus, pois sabemos que é da nossa natureza viver nas sombras que combatemos e lutar as causas obscuras que o mundo deseja olvidar. E talvez seja da nossa natureza permanecer impassíveis enquanto tudo o mais se vai.
                       Se a Ordem dos Cavaleiros de São Jorge se for... quem tomará nosso lugar?
A Opus Dei é uma piada de mal gosto dentro da própria Igreja, os Templários estão velhos e enfraquecidos e os Exorcistas e os Agentes de Gabriel... bem, estes se tornaram praticamente parte daquilo que tentamos erradicar a séculos!Externamente à nossa fé, também não creio haver nenhuma agremiação ou ordem que possa tratar das coisas com as quais lidamos: os Monges do Tao estão mais preocupados com filosofia e contemplação que com a própria existência do Mal, as Damas de Ferro inglesas não passam de aberrações genéticas produzidas pela Ciência e os maçons estão preocupados demais com suas intrigas e joguinhos políticos.
                       Mas nós somos a Ordem dos Cavaleiros de São Jorge: os monstros da noite nos temem, o mundo não sabe quem somos, e mesmo assim a nossa espada continua a ceifar as vinhas do mal dentre os ramos de trigo da Criação. Se Sua Santidade não nos apoiar em nossa batalha... o que será da ordem do Mundo?
                       Assim sendo, informo também que esta é a última carta que vos escrevo, e também a última vez que venho ao Vaticano, pois não pretendo mais deixar Londres até o fim de meus dias. Também espero sinceramente que minhas palavras tenham surtido o efeito necessário, e o tenham feito meditar e repensar certas medidas em nome da manutenção e preservação de tudo aquilo que já conseguimos até hoje. Caso contrário... Que Deus e Nosso Senhor Jesus Cristo nos ajudem, não poderemos mais salvá-los de vocês mesmos.


Atenciosamente,


Alden."